Viagem inesperada ao Porto - Café Majestic
Porto - Café Majestic
19 de Maio de 2015
O esplendor da "Belle Époque"
“Em 17 de Dezembro de 1921, pela autoria do Arquiteto
João Queiroz, abriu um luxuoso café com o nome de Elite, situado na rua Santa
Catarina, o local mais central da cidade. Mais do que um café, o Majestic conta
a história do Porto. O Porto dos anos vinte, das tertúlias políticas e do debate
de ideias. O Porto da "Belle Époque", dos escritores e dos artistas.
Situado na rua de Santa Catarina, avenida pedonal de comércio e passeio da
sociedade de então e de agora, iluminava o passeio com a sua decoração Arte
Nova.
Lá dentro, inalava-se o perfume dos bancos aveludados
e das madeiras envernizadas, confundindo-se os cinco sentidos nos tetos de
gesso decorado e abundante espelharia em cristal flamengo. Mármore e metal
ligavam-se com requinte inigualável. Nas traseiras a natureza espreitava
através do jardim de Inverno, que ligava a rua de Santa Catarina à rua de
Passos Manuel.
Nesse dia já distante, o dia da inauguração ficou
marcado na cidade. Foram muitos os que se dirigiram para esse ponto da cidade
para conhecerem o novo edifício que se incrustava na paisagem arquitetónica
portuense. Agradou a intelectuais e boémios mas também às senhoras da melhor
sociedade que, em passeio, ali tomavam o chá ou um sorvete.
O café teve honras e distinções e recebeu uma visita
distinta, o piloto aviador, e mais tarde almirante, Gago Coutinho (que consta
sempre acompanhado de belíssimas mulheres), acabado de chegar de mais uma
arriscada jornada à ilha da Madeira. Tão agradavelmente surpreendido ficou com
o esplendor do novo estabelecimento que lá regressou várias vezes para poder contemplar
a beleza de todos os pormenores que o compunham, uma das quais na companhia da
famosa atriz Beatriz Costa.
Embora a abertura ao público fosse um sucesso, a
denominação atribuída ao estabelecimento dava-lhe uma aura monárquica que não
condizia com o ambiente republicano, burguês e chic dos portuenses
contemporâneos.
O glamour e a elite cultural parisiense eram referências
para a cultura portuguesa da altura, tendo influído a escolha do novo nome –
Majestic – impregnado de charme "Belle Époque".
Neste espaço, passaram a convergir vultos intelectuais
da cidade. José Régio, Teixeira de Pascoaes, Leonardo Coimbra, entre outros,
emprestaram à casa a literacia necessária para que sucedesse o aceso debate,
entre figuras públicas e as que viriam a sê-lo, das questões políticas, sociais
e filosóficas mais prementes.
Num lugar que é, por mérito próprio, arte, não
poderiam faltar os que a constroem. Alunos e professores da Escola de Belas
Artes do Porto, juntavam-se a artistas de nomeada, como Júlio Resende, para
desbravar novos caminhos e motivações artísticas, propôr ruturas, criticar
formalismos, conceptualizar novas formas, ou simplesmente para ouvir o que se
dizia então.
Em vários cafés do Porto sucedia o mesmo que no
Majestic, uma intensa polarização social da cultura ao sabor do café ou do
absinto escondido.
Nos anos 60 do século XX, coincidindo com um certo
adormecimento forçado das manifestações culturais do País, o Café Majestic
começa, ele próprio, a adormecer. É um declínio lento mas contínuo.
Este estado de degradação a que estava votado, cedo
começa a ser percebido pelas forças vivas da cidade. Assim, em 24 de Janeiro de
1983, é decretado Imóvel de Interesse Público. Três anos depois, a nova
gerência estuda a forma de devolver o café à cidade.
Entretanto, o tempo mostra a sua inexorabilidade, os
anos de incúria transformaram o espaço num local sombrio. O Majestic e toda a
história que as suas chávenas beberam, clamavam por reconhecimento.
Em 1992, 71 anos após a inauguração, é decidido
devolver-lhe a vaidade justa de ser um dos mais belos cafés do Porto. A 15 de
Julho de 1994 abre novamente as portas. Foram precisos dois anos para lhe puxar
o lustro. Quem lá entrar encontra agora exposições, eventos e mesmo um certo
mediatismo - por vezes é palco televisivo.
O Café Majestic de traça idealizada pelo arquiteto João
Queiróz, inspirada na obra do seu mestre Marques da Silva, permanece ainda hoje
como um dos mais belos e representativos exemplares de Arte Nova na cidade do
Porto. O edifício, fundeado em 1916 no ângulo formado pelas ruas de Santa
Catarina e Passos Manuel, previa, na memória descritiva da sua reconstrução, a
existência de estabelecimentos virados para a rua pedonal.
A imponente fachada em mármore, adornada com aspetos
vegetalistas de formas sinuosas, reflete o bom estilo decorativista da altura.
Um trio de elegantes portadas marca a frontaria, limitada por uma secção retangular,
rasgada em vidro. No topo um frontão coroa a composição com as iniciais do
Majestic. Ladeiam-no duas representações de crianças que, divertidas, convidam
o transeunte a entrar.
Dentro do estabelecimento, de planta retangular, reina
a linguagem Arte Nova. A simetria curvilínea das molduras em madeira e os
pormenores decorativos cativam a observação. Grandes espelhos riscados pela
idade, intercalados por candeeiros em metal trabalhado, delimitam as paredes
num inteligente jogo óptico de amplitude, que lhe dá uma dimensão maior que a
real.
Esculturas em estuque, representando rostos humanos,
figuras desnudas e florões, confirmam o gosto ondulante e sensual, enquanto
duas linhas de bancos em couro gravado, substituindo os originais em veludo vermelho,
criam, em termos de perspetiva, uma sensação de profundidade e elegante
aconchego.
O recorte sinuoso dos caixilhos da espelharia, a
luminosidade dos candeeiros, os detalhes em mármore e os bustos sorridentes que
se estendem das paredes ao teto, conferem-lhe ambiência dourada e confortável,
incitando ao repouso e à conversa amena. O Café Majestic emana uma atmosfera de
luxo, requinte e bem-estar.
O pátio interior, construído em 1925, é um recanto de
contornos delicados, com escada e balaustrada de pequenas dimensões, arquitetado
como se de um jardim de Inverno se tratasse. Sob a direção do mestre Pedro
Mendes da Silva, este espaço simboliza uma nova era do Café Majestic. A
construção do bar e da ligação ao café por meio de uma escadaria permitiu abrir
uma nova frente, a da rua Passos Manuel, "...onde será posto à venda vinho
do Porto. Para isso, escolheu-se o estilo regional da nossa arquitetura, não só
para a construção do bar, mas também para a vedação do muro".
A nova fachada foi subsequentemente idealizada e
executada seguindo moldes diferentes dos adotados para o interior. Se este é ao
gosto internacional, o novo espaço, não o renegando apresenta um estilo mais
rústico, manifestando o que mais tarde Raul Lino designou por casa portuguesa.
Nesse mesmo ano o Majestic cumpre singularmente a
função plural de satisfazer todos os desejos da clientela. Volta a chamar o
arquiteto João Queiróz, agora para abrir uma modesta mas graciosa janela no
muro remodelado, virada para a rua Passos Manuel, onde passará a vender tabaco
e rapé à população. Um ano depois, em 1926, o espaço é ampliado e cedido à
exploração da firma Tinoco & Irmãos, construindo uma "pequena cabina
(…) para servir de tabacaria".
Auspícios de novos tempos e hábitos surgem em 1927,
através da ampliação do bar com vista ao "serviço e fornecimento de
cerveja para o terraço ali já existente". O espaço, como o vemos,
apresenta-se evolutivo. De uma formulação mais depurada e arquitetural à
entrada, motivada pelas raízes Beaux Arts do arquiteto, ao
aproximarmo-nos do jardim passamos por um decorativismo colmatador das
estruturas arquitetónicas, terminando no portal jónico de ligação ao exterior,
com grandes volutas transparentes e sensuais, tipicamente Art Nouveau,
insinuando as esculturas femininas que vislumbramos no exterior. Esse,
verdejante e luminoso, serve atualmente para a dinamização de concertos durante
o Verão, pelo que se tornou no terceiro centro cultural do Majestic, a
rivalizar com o piano de cauda no interior e com as inúmeras exposições de
pintura a acontecer no piso inferior, outrora votado ao jogo de bilhar.
Sob a égide dos Barrias, em 1992, o café foi encerrado
para a execução de um projeto de recuperação que ficou a cargo da arquiteta
Teresa Mano Mendes Pacheco.
Em 1994, depois da substituição do pavimento interior
e da reposição do mobiliário original, o Majestic foi reaberto. Fotografias
encontradas por Fernando Barrias permitiram conservar a alma do local,
transportando, com sensibilidade, um passado luminoso para o presente.
Os inúmeros prémios e o reconhecimento internacional -
"Prémio Especial de Café Creme" (1999), "Medalha de Prata de
Mérito Turístico" (2000), "Medalha de Prata de Mérito Municipal -
Porto" (2006), "Certificado do Prémio Mercúrio - O melhor do Comércio
na área das empresas na categoria Lojas com História" (2011) e
"Medalha Municipal Mérito - Grau Ouro" (2011), classificado pelo site cityguides como o sexto café mais belo do mundo e o Certificado de Excelência da TripAdvisor - surgiram com naturalidade,
devolvendo-lhe, finalmente, a justa notoriedade que, durante tantos anos, havia
sido esquecida.”
Texto capturado em 20 de Maio de 2015 de: http://www.cafemajestic.com/pt/Majestic-Cafe/Historia.aspx
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