Os Círios do Santuário de Nossa Senhora da Atalaia
Os Círios do Santuário de Nossa Senhora da Atalaia
"Especialmente
no litoral (de Setúbal a Coimbra), os Círios são confrarias populares que
anualmente se deslocam a um santuário (por vezes afastado) em cumprimento de
uma “promessa antiga” que a aldeia ou povoação teria feito em tempos idos
(míticos). Esses habitantes, que ciclicamente se dirigem ao velho local de
culto, constituem uma delegação da povoação e cumprem a “promessa antiga” em
nome de todos. Transportam geralmente consigo a imagem religiosa que veneram,
bem como o guião e as bandeiras onde constam o nome da povoação e do santuário.
O Círio possui ainda outros traços identificadores (nem sempre figurando
conjuntamente), como o ritual das três voltas ao templo; as arrematações (de
bandeiras e de fogaças); as procissões (algumas sem a presença do pároco); os
anjos que cantam as loas; a lavagem simbólica na “fonte santa”; a eleição
(garantida com um ano de antecedência) de juízes, festeiros, mordomos ou
comissões que, segundo regras de outrora, se responsabilizam pela continuidade
do culto; os “ex-votos”; os “registos”; os festins alimentares; os gaiteiros; a
dança; entre outros.
O
Círio é um produto da religião popular alheio à Igreja Católica e pode ser de
origem arcaica e tribal. Os Círios do santuário de Nossa Senhora da Atalaia de
que há notícias desde o século XVI (remetendo algumas delas para períodos muito
anteriores) estão ainda ativos, impondo-se à indiferença ou reprovação do clero
e constituem, num meio grandemente afastado do catolicismo, um caso
paradigmático de autonomia religiosa e de continuidade da cultura ancestral."
Luís Marques in “Tradições religiosas entre o Tejo e o Sado - Os Círios do Santuário da Atalaia”
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