MÉRTOLA: Complexo Baptismal - Fragmentos do tapete de mosaicos do pavimento da galeria porticada (1)
MÉRTOLA: Complexo Baptismal - Fragmentos do tapete
de mosaicos do pavimento da galeria porticada
1 de março de 2020
Mértola: Complexo
Baptismal - Os mosaicos
Já em finais do século XIX, por
iniciativa de Estácio da Veiga, tinha aparecido na zona da alcáçova um
fragmento de mosaico representando uma tartaruga. Porém foi só em inícios de
2000 que o CAM pôs a descoberto e consolidou um longo pavimento de mosaico onde
se destaca um significativo conjunto de painéis decorativos.
Deste conjunto musivo fazem parte
várias representações mitológicas entre as quais é de realçar no deambulatório
do baptistério um Belerofonte cavalgando o Pégaso para matar a Quimera e no
longo corredor porticado dois leões afrontados e várias cenas de caça com um
cavaleiro empunhando um falcão. Procurando os paralelos para estas
representações, não podemos deixar de referir uma pequena capela perto de
Hergla, na Tunísia, onde foi descoberto um mosaico em que também são
representados dois leões afrontados e uma cena de caça com falcoaria. Este
conjunto foi datado do século VI (Ghalia 2001, 67).
Os
motivos vegetalistas representados são ramagens (que predominam), acantos e
rosas. As primeiras parecem constituir uma breve indicação de paisagem. Os
segundos, estilizados e repetidos, surgem nas molduras dos painéis musivos. Os
motivos florais fazem alusão ao paraíso. Adornam-se com flores, templos e
basílicas; nos mosaicos de Roma e de Ravena representam as delícias do paraíso
(Cirlot 1982, 339).
Os
motivos geométricos como a cornucópia, o nó de Salomão, os círculos e as peltas
são bem conhecidos na gramática ornamental dos mosaicos do período
tardo--romano e perduram nas representações musivas posteriores.
Mais
do que as semelhanças há que salientar as diferenças. Os mosaicos de Mértola
distinguem-se da linguagem musiva tardo-romana até agora conhecida no
território português, pela temática e pela fina execução técnica, denotando
certamente influências não só do Norte de África como também da tipologia
ravenaica, influenciada pelo gosto bizantino.
Uma
análise mais atenta dos mosaicos do complexo baptismal de Myrtilis permite
constatar que, pela forma e qualidade das tesselas, pela técnica de corte e
modo de assentamento, o programa da obra teria sido contemporâneo, obedecendo a
um mesmo e coerente projecto. Não é de excluir que tenha sido a mesma equipa de
mosaístas oriundos certamente do Mediterrâneo oriental, a executar todo este
trabalho. Se a falta de paralelos bem datados inviabiliza uma cronologia
segura, leituras estratigráficas e traços estilísticos permitam atribuir esta
obra à primeira metade do século VI. Nessa época a cidade de Myrtilis e
os seus comerciantes estão em contacto com todos os portos do Mediterrâneo
nomeadamente com o Próximo Oriente de onde são originários vários personagens
enterrados na Basílica Paleocristã do Rossio do Carmo e no Mausoléu recentemente
descoberto.
No dia 25 de Março de 2009, foi
inaugurado o Circuito de Visitas da Alcáçova do Castelo de Mértola. Esta obra
há muito projectada, permitirá a visita organizada e a visualização correcta
dos mosaicos e do baptistério, bem como aceder ao criptopórtico.
Esta intervenção motivou ainda um
programa de conservação in situ e restauro das superfícies musivas. O
projecto de valorização agora implantado vai permitir a circulação das pessoas
e contribuir para a protecção das estruturas existentes.
Texto capturado em 3 de
março de 2020 de https://run.unl.pt/bitstream/10362/16603/1/RHA_6_ART_2_VLopes.pdf
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