MÉRTOLA – Complexo Baptismal descoberto na Alcáçova do Castelo






 MÉRTOLA – Complexo Baptismal descoberto na Alcáçova do Castelo
1 de março de 2020


As escavações dos anos oitenta puseram a descoberto um conjunto baptismal e um corredor porticado que assenta sobre a abobada do criptopórtico.
Este grande edifício, de planta rectangular, continha no seu interior um baptistério octogonal implantado no centro de um tanque ou piscina rodeado por um deambulatório. Partindo do espaço central, abre-se a Leste uma ábside de planta em arco ultrapassado onde marcas no solo indicam a possível localização de uma mesa de altar. O pavimento da galeria porticada e o deambulatório estavam recobertos por um belo tapete de mosaicos, do qual restam alguns fragmentos.
A pia baptismal, com um ressalto em degrau que serviria de assento, é sustentada pelo exterior por oito pequenos absidíolos. A água trazida da encosta do castelo penetrava na pia por uma canalização de chumbo e jorrava no alto de um pequeno pináculo cravado no centro.
Alguns lances de degraus permitiam o acesso ao tanque e à pia baptismal completamente revestidos com placas de mármore e envolvidos numa cancela. Não será de excluir que este baptistério, à semelhança de alguns exemplares conhecidos noutras partes do Mediterrâneo, fosse encimado por uma cúpula ou baldaquino. Foram encontrados nas imediações um pequeno fuste e dois fragmentos de cornija finamente trabalhados, integráveis na arquitectura baptismal Este baptistério tem algumas semelhanças técnicas e formais com exemplares da França mediterrânica (Guyon 1991, 71), do Norte da Itália (Paoli 1998, 6) e de Cartago na Tunísia (Ennabli 1997,138) – todos datados entre os séculos IV e VII. Contudo, é no baptistério de Ljubljana (Emona, Eslovénia) que são mais notórias as semelhanças construtivas. Os autores que estudaram este conjunto baptismal e o pórtico anexo, situam a sua cronologia por volta do século V (Caillet 1993, 371).
Na costa italiana da Ligúria um complexo baptismal também com elementos se­melhantes ao de Mértola, é atribuível a meados do século VI (Frondoni 1998, 3).
A presença de práticas baptismais na Península Ibérica foi documentada a partir dos princípios do século IV no Concilio de Elvira. Os baptistérios construídos de raiz ou que aproveitam estruturas balneares anteriores, começam a generalizar-se em finais do século IV.
A organização do espaço litúrgico em torno do baptistério de Mértola assemelha-se a outros locais da mesma época. Os catecúmenos seguiriam em cortejo pelo pór­tico dos mosaicos entrando no baptistério pela porta oeste, dirigindo-se à fonte baptismal. Já baptizados, os neófitos subiam as escadas em direcção ao altar onde seriam recebidos pelo bispo para uma primeira comunhão.
Tendo em conta que nesses tempos antigos o baptismo é celebrado apenas pela Páscoa, este conjunto arquitectónico poderia também ser utilizado como catecumeneo, local destinado a preparar os aspirantes a cristãos.
Em regra, o baptistério integra-se num conjunto arquitectónico em que os diversos espaços têm funções precisas na organização da cerimónia. Na maioria dos casos conhecidos, o baptistério estava situado ao lado de uma basílica principal ou entre duas igrejas, no caso dos grupos episcopais. No caso de Mértola, com os dados existentes, não podemos definir com clareza o tipo de edifício a que o baptistério estava associado. Só futuras escavações arqueológicas o poderão esclarecer, no entanto avançamos com algumas propostas de reconstituição volumétrica do complexo baptismal.
Dada a monumentalidade, o luxo da construção e acabamentos, não é de excluir que se trate de um palácio episcopal que se manteve em funções entre os séculos V e VII (Lopes, 2004).






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