Análise da Composição VIII - Wassily Kandinsky
Detalhe da Composição VIII - Wassily Kandinsky
"Esta
pintura reflete a influência que o Suprematismo e o Construtivismo tiveram sobre
Kandinsky durante a sua estadia na Rússia antes de regressar à Alemanha para
ensinar na Bauhaus.
O
artista move-se da cor para a forma como elemento dominante da composição
pictórica.
As
formas contrastantes ajudam ao equilíbrio dinâmico da tela – o grande círculo
na zona superior esquerda está em contraponto com a rede de linhas precisas na
região direita da tela.
O
artista usa cores diferentes para acentuar a geometria: um círculo amarelo com um
halo azul em contraste com um círculo azul com um halo amarelo; um ângulo recto
à direita cheio de azul e um ângulo agudo cheio de cor-de-rosa.
O
arranjo formal dos elementos na tela fazem lembrar uma paisagem, podendo o
círculo multicolorido à esquerda ser um Sol que se põe por trás das montanhas esquematicamente
representadas pelos ângulos.
O
fundo também contribui para realçar o dinamismo da composição.
O
desenho não aparece como um exercício geométrico numa superfície plana, mas
como um espaço indefinido.
São
as cores do fundo que definem a profundidade – azul claro na parte inferior, amarelo
claro no cimo e branco no meio.
As
formas tendem a retroceder e a avançar na profundidade deste espaço, criando um
efeito ambíguo.
A
Composição VIII ilustra a seguinte afirmação de Kandinsky:
... A forma, mesmo quando abstrata e geométrica, possui o seu
próprio som interior; ela é um ser espiritual, dotado de qualidades idênticas a
essa forma.
Um triângulo (agudo, obtuso ou isósceles) é um ser. Emana um
perfume espiritual que lhe é próprio. Associado a outras formas, este perfume
diferencia-se, enriquece-se de nuances – como um som das suas harmonias --, mas
no fundo permanece inalterável. Tal como o perfume da rosa que nunca se poderá
confundir com o da violeta. (...). É assim que vemos claramente a interação
entre a forma e a cor. Um triângulo totalmente preenchido a amarelo, um círculo
a azul, (...). As cores agudas têm uma maior ressonância qualitativa nas formas
ponteagudas, (como, por exemplo, o amarelo num triângulo). As cores que se
podem classificar de profundas são reforçadas nas formas redondas (o azul num
círculo, por exemplo). É evidente que a dissonância entre a forma e a cor não
pode ser considerada uma desarmonia. Pelo contrário, pode representar uma possibilidade
nova e, portanto, uma causa de harmonia.
Wassily
Kandinsky, Do Espiritual na Arte, pp. 64 e 65
Nesta
obra, a orquestração entre o pequeno círculo branco e preto, e o triângulo em
que se insere, permite ao artista explorar as várias possibilidades em termos
de tensões: estabilidade e instabilidade, forças concêntricas e excêntricas – e
analisar o seu efeito sobre o espectador.
Mesmo nas suas obras de pendor claramente abstrato, Kandinsky não
abandona o seu objetivo de atingir a harmonia e a “necessidade interior” tal
como está patente na frase seguinte:
... Luta de sons, equilíbrio perdido, ‘princípios’ alterados,
rufos de tambor inesperados, grandes questões, aspirações sem objetivo visível,
impulsos aparentemente incoerentes, correntes e laços quebrados que se
entrelaçam, contrastes e contradições... eis como se apresenta a nossa Harmonia.
A composição que se apoia nesta harmonia é uma justaposição de formas coloridas
e desenhadas, que enquanto tal, mantêm uma existência independente, procedendo
da Necessidade Interior e constituindo, na comunidade resultante, um todo
denominado quadro.
Wassily
Kandinsky, Do Espiritual na Arte, p. 93”
Texto
capturado em 10 de junho de 2019 de: http://www.arte.com.pt/text/filipag/musicakandinsky.pdf
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