ALENTEJO
Burro alentejano
Fotografia: Rui Laginha
Fotografia: Rui Laginha
Odivelas (Baixo-Alentejo) - Março de 2014
Alentejo
Folheia-se o caderno e
eis o sul
E o sul é a palavra. E
a palavra
Desdobra-se
No espaço com suas
letras de
Solstício e de solfejo
Além de ti
Além do Tejo
Verás o rio e talvez o
azul
Não o de Mallarmé: soma
de branco e de vazio
Mas aquela grande linha
onde o abstrato
Começa lentamente a ser
o
Sul
Outro é o tempo
Outra a medida
Tão grande a página
Tão curta a escrita
Entre o achigã e a
perdiz
Entre chaparro e choupo
Tanto país
E tão pouco
Solidão é companheira
E de senhor são seus
modos
Rei do céu de todos
E de chão nenhum
À sombra de uma
azinheira
Há sempre sombra para
mais um
Na brancura da cal o
traço azul
Alentejo é a última
utopia
Todas as aves partem
para o sul
Todas as aves: como a
poesia
Manuel Alegre, Alentejo
e ninguém
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