Adoração dos Magos

 
Adoração dos Magos
Museu Grão Vasco - Viseu 
© DR

"Atribuída a Vasco Fernandes, esta é uma das mais peculiares representações da "Adoração dos Magos", com o índio brasileiro representado.

"A celebridade desta pintura sobre tábua que fez parte do retábulo da Sé de Viseu, reside no facto de um dos Reis Magos - que corresponderá ao Rei Baltazar, o "rei mouro" -, ser figurado como um índio brasileiro, vestido com traje cerimonial, indumentária característica dos membros da tribo tupinambá, com a coroa de penas", diz o historiador professor Paulo Pereira, acerca desta pintura que se pode ver no Museu Grão Vasco, em Viseu, e cuja autoria é atribuída ao português Vasco Fernandes, uma das cinco Adorações dos Magos mais importantes que selecionou a pedido do DN.

O especialista atalha para a grande particularidade da obra: "Trata-se da primeira figuração conhecida de um índio brasileiro - e de um ameríndio -, em todo o Ocidente”. Esse detalhe faz viajar no tempo, até à época em que o Brasil foi achado pelos portugueses. "O facto tem a ver com a imperiosa necessidade de se mostrar que aquela parte do mundo era conhecida, após a oficialização da "descoberta", ocorrida a 2 de abril de 1500, pela armada chefiada por Pedro Álvares Cabral", situa. "Somente o conhecimento de um índio nativo com tais atributos - certamente embarcado e trazido para Portugal - poderia levar a que o pintor registasse com tão notável precisão os pormenores de parte da indumentária e do armamento", acrescenta Paulo Pereira, sobre esta pintura e o modo como foi produzida, entre 1501 e 1506.

O que está também nos 131 centímetros de altura por 81 de largura da tela, é a "necessidade de sinalizar, a poucos anos do "achamento" do Brasil, as potencialidades da cristianização das terras recém-descobertas e dos seus habitantes, o que concorda com a primeira impressão no contacto com os ameríndios transmitida pela Carta de Pêro Vaz de Caminha [1500]".

"A fisionomia do índio parece estar de acordo com um tipo antropológico único, distinto do negro africano que muitas vezes aparece como rei Baltazar noutras pinturas representando este episódio do Nascimento e Vida de Jesus. Veja-se o brinco e o colar perlado, ou a pulseira de metal. Não é figurado nu, como deveria de ser, mas vestido com camisola e calção", sustenta. Da tela, a óleo, chama ainda a atenção para dois detalhes: "no Rei Mago ajoelhado em adoração [Belchior], há quem veja a efígie do próprio Pedro Álvares Cabral" e os "apontamentos do quotidiano em contraponto com a elevação da cena", como o pote de barro com colher pousada."

Texto capturado em janeiro 5, 2023 de Cinco imperdíveis ″Adorações dos Magos″ portuguesas (dn.pt)



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