O rio ficou vermelho
"O rio ficou vermelho"
Origami e kirigami em suporte de papel - 22 de Abril de 2015
Lira do amor
romântico
Ou a eterna
repetição
“Atirei um
limão n’água
e fiquei
vendo na margem.
Os peixinhos
responderam:
Quem tem
amor tem coragem.
Atirei um
limão n’água
mas perdi a
direção.
Os peixes,
rindo, notaram:
Quanto dói
uma paixão!
Atirei um
limão n’água,
ele afundou
um barquinho.
Não se
espantaram os peixes:
faltava-me o
teu carinho.
Atirei um
limão n’água,
o rio logo
amargou.
Os peixinhos
repetiram:
É dor de
quem muito amou.
Atirei um
limão n’água,
o rio ficou
vermelho
e cada
peixinho viu
meu coração
num espelho.
Atirei um
limão n’água,
de tão baixo
ele boiou.
Comenta o
peixe mais velho:
Infeliz quem
não amou.
Atirei um
limão n’água,
pedindo à
água que o arraste.
Até os
peixes choraram
porque tu me
abandonaste.
Atirei um
limão n’água,
não fez o
menor ruído.
Se os peixes
nada disseram,
tu me terás
esquecido?
Atirei um limão n’água
e caí n’água
também,
pois os
peixes me avisaram,
que lá
estava meu bem.
Atirei um
limão n’água,
foi levado
na corrente.
Senti que os
peixes diziam:
Hás-de amar
eternamente.”
Carlos
Drummond de Andrade
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